Feminismo,Vida sem filhos Por que criei o “Sem Filhos”

Por que criei o “Sem Filhos”

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Embora eu vá falar muito da minha própria experiência pessoal ao longo desta minha trajetória na busca por uma vida plena e sem filhos, esta decisão de me expor na internet não é sobre mim.

Sei que pode soar estranho, mas eu garanto que seria muito mais fácil (e mais cômodo) continuar minha vida exatamente do jeitinho que ela sempre foi: sem publicizar a minha opção por não ser mãe, especialmente da forma como irei fazer a partir de agora. Embora isso nunca tenha sido um segredo (quem convive comigo sempre conheceu meu ponto de vista), ainda assim, trata-se de um tabu e externalizar isso pode fazer com que muitos não gostem de mim ou considerem que sou uma pessoa que deveria fazer terapia para resolver meus traumas – e não um site na internet (como se não desejar a maternidade fosse uma doença que careça de tratamento).

O que eu estou fazendo, basicamente é dando a cara a tapa. Sim, eu sei que serei criticada por levantar os questionamentos e as reflexões que pretendo fazer aqui. E, ao contrário do que muitos podem imaginar, não estou “querendo aparecer”: estou propondo um longo debate em torno de um assunto sensível e polêmico para mudar a realidade de muitas mulheres que, assim como eu, não gostariam de se tornar mães, mas vivem em um contexto social, cultural ou religioso que castra sua liberdade e limita suas escolhas. Se se você for um homem que não pretende ser pai, saiba que este espaço também foi pensado para o público masculino, mas o termo maternidade será mais mencionado do que paternidade, porque a mulher é muito mais cobrada e pressionada socialmente, pelo fato de ser a detentora do útero – e por “otras cositas más” (as quais também pretendo abordar).

Reprodução e sexismo

O que eu percebi, ao longo dessa minha trajetória, é que o direito pleno a não ter filhos parece estar reservado aos homens. Raramente as pessoas estranham ou repreendem um homem quando este fala que não quer ser pai, mas a mulher que não quer ser mãe é, frequentemente, estereotipada e estigmatizada. Fato que, infelizmente, leva muitas a terem filhos, mesmo contra a sua vontade, pois algumas mulheres vivem em um contexto social que não lhes dá outra opção a não ser se reproduzirem. Infelizmente, muitas não têm acesso à informação, redes de apoio e seu círculo social não lhes proporciona reflexões que as permitam concluir que “ser mãe de ninguém” é uma opção.

Isso sem mencionar que, por fatores culturais ou religiosos, algumas mulheres ainda buscam, acreditam e necessitam “se enquadrar” e, para isso, acreditam que, para serem felizes, precisam levar uma vida “normativa”, fazendo aquilo que a maioria faz. Assim, seguir um caminho diferente dessa maioria não chega nem perto de lhes parecer uma opção que lhes traria maior satisfação pessoal, uma vez que sentiriam-se (e, provavelmente, seriam) excluídas de vários círculos sociais. Assim, embora muitas mulheres não sintam o desejo (e algumas possam sentir até uma certa resistência e repulsa à maternidade), elas acabam sucumbindo aos desejos de outrem e não aos seus próprios, por fazerem parte de um sistema que lhes fez crer que não é possível ter uma vida plena e feliz sem filhos.

Então, sim, o que pretendo fazer é problematizar certas verdades absolutas, como: “mulher só se realiza quando se torna mãe” e “ter filhos é a melhor coisa que pode acontecer na vida de alguém”. Meu objetivo, com isso, não é convencer as pessoas a não terem filhos, e sim mostrar que esse não é, necessariamente, o único caminho para uma vida repleta de significados. Minha intenção, aqui, não é fazer apologia à antimaternidade – até porque eu sou absolutamente pró-maternidade, desde que a mulher realmente deseje isso para si e tenha feito essa escolha por si mesma e não pelos outros e, preferencialmente, depois de refletir muito sobre os prós e os contras. Sim, a maternidade tem o seu lado sombrio, acontece que ele nem sempre é revelado pela maioria das mães, que fazem entre si um pacto de silêncio sobre as mazelas dessa função da qual é impossível demitir-se.

Uma falsa liberdade

Pode parecer absurdo imaginar que esses problemas existam em um mundo pós-pílula anticoncepcional, no qual, teoricamente, as mulheres têm liberdade de escolha, mas a verdade é que muitas mulheres ainda são coagidas e persuadidas a terem filhos, mesmo contra a sua vontade, porque a sociedade patriarcal precisa que as mulheres continuem não pensando e se calando a respeito das desvantagens da maternidade; outras, podem viver em um contexto familiar tão machista, repressivo e culturalmente pobre, que são desencorajadas a refletir sobre o tema – afinal, a racionalidade também parece ser um direito exclusivo dos homens.

É por este e outros motivos que os movimentos feministas são, ainda, tão necessários, mesmo nos dias atuais, quando muitas pessoas acreditam que “as mulheres já conquistaram tudo”, sendo que ainda não temos direito a tomar decisões nem sobre o nosso próprio corpo.

Portanto, quando digo que este blog não é sobre mim, é porque não estou aqui lutando pelo meu direito de não ter filhos (porque eu já entendi que tenho esse direito, independente do que os outros pensem), mas sim lutando pelo direito de outras pessoas a conhecerem e fazerem esta escolha, se assim o desejarem, sem sofrerem preconceitos e serem vítimas de esteriótipos por conta desta decisão.

E eu vos digo: é possível, sim, ser feliz sem ter filhos.

7 thoughts on “Por que criei o “Sem Filhos””

  1. Parabéns, Patrícia!
    Admiro a sua clareza, sua coragem e sua determinação em defender suas ideias e suas decisões que certamente impactarão positivamente na vida de muitas mulheres que pensam como você.

    1. Muito obrigada, Lenir! Muito obrigada pela sua visita, você é sempre muito bem-vinda aqui. Irei escrever semanalmente sobre o tema. Se conhecer pessoas que possam se identificar com o assunto, peço a gentileza de indicar meu site. Um grande abraço, querida!

  2. Parabéns e obrigada pela iniciativa!! Me sinto representada aqui, obrigada por este espaço. Existimos e temos direito de escolha sobre nossos corpos, nossas vidas. Só amor por esse canal.

    1. Paola, muitíssimo obrigada pela sua visita e por seu comentário. Feedbacks assim são muito importantes para sabermos se estamos no caminho certo. Seja muito bem-vinda e não deixe de seguir os perfis nas Redes Sociais. <3

  3. Nossa, adorei o site. Muito interessente sua visão, também não quero ter filhos e apesar de ter 17 anos, já é perceptível a cobrança em cima da mulher até mesmo nessa idade. Muito triste.

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