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Vasectomia aos 28 anos e sem filhos

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Texto de Lucas Pinheiro

Tenho 28 anos, não tenho filhos e fiz uma vasectomia há três meses, porém já pensava a respeito há pelo menos uns três ou quatro anos. Eu comecei a pensar nisso quando me deparei, em uma página na internet, com um texto intitulado “Odeio ser mãe”. Lá, tinha comentários de homens e mulheres falando sobre como criar um filho é difícil.

O meu processo decisório de não ter filhos foi gradual, quanto mais eu observava a vida das pessoas que tinham filhos, mais eu percebia que aquilo não era meu ideal de vida. Vi muitos colegas de escola casando e tendo filhos e passando por dificuldades pelas quais eu não queria passar. Então, aos poucos, fui decidindo que eu quero levar um estilo de vida mais tranquilo e mais focado em mim e na pessoa que tiver do meu lado. Acredito que eu me manifestei sobre isso pela primeira vez aos 16 ou 17 anos, mais ou menos, e essa ideia foi só ficando cada vez mais forte conforme o tempo foi passando”, disse.

Embora eu goste de crianças, não gostaria de ser responsável por uma. Responsável em todos os sentidos, tanto afetivamente, quanto financeiramente, emocionalmente etc. Eu vim de família pobre e tudo que conquistei foi com o suor do meu trabalho, então agora que eu posso curtir a minha vida com mais tranquilidade, um filho faria com que eu não pudesse curtir tanto. Além disso eu pretendo casar e curtir meu casamento só com minha esposa – sem os filhos pra nos preocuparmos.

Eu sou uma pessoa bem racional e penso muito antes de tomar decisões – então, fiz a vasectomia porque sei que a tendência é que essa ideia [de não ter filhos] se mantenha pro resto da minha vida. No momento, não ter filhos é um princípio primordial, e já é assim há pelo menos uns 10 anos, então acredito que a tendência é que eu me mantenha com essa ideia, eu não me vejo sendo pai.

Contudo, acho que como seres humanos somos muito mutáveis, então dizer que “nunca” faria algo é complicado, a cabeça da gente tende a mudar muito sobre determinados aspectos, mas eu jamais teria filhos apenas para fazer a vontade de outra pessoa, isso simplesmente não rola. Existem coisas dentro de um relacionamento que dá pra ceder – tipo o local onde vão morar, a cor das paredes da casa, o destino das férias -, mas ter filhos não é uma questão negociável, quem ceder nesse ponto vai ficar infeliz. Se a pessoa cede ao ter um filho que não desejava, acabará se frustrando com a responsabilidade que terá adquirido sem vontade; em contrapartida, se outra pessoa abre mão de ter filhos que sempre desejou muito, também ficará frustrada por não ter um sonho realizado. Então, o ideal é só se relacionar com pessoas que concordem nesse aspecto. Ao mesmo tempo, eu não teria problema de me relacionar com uma mulher que já tenha filhos, desde que houvesse equilíbrio na relação e que eu não tivesse que ficar responsável pelas crianças.

Aspectos legais e burocráticos da vasectomia

Enfrentei um pouco de dificuldade em achar um médico que topasse fazer minha vasectomia, pois até encontrá-lo passei por dois médicos que não quiseram fazer o procedimento (inclusive um deles tinha quase 40 anos e não tinha filhos – o que achei bem irônico). Ele tentou me convencer do contrário e, inclusive, afirmou que a lei dizia que precisava ter “25 anos E dois filhos” – e eu bati o pé, dizendo que era “OU” – e aí ele abriu a lei lá na minha frente e ficou todo sem graça, mas mesmo assim disse que não faria. Eu o confrontei perguntando: “Se eu tivesse vindo aqui pedir ajuda pra engravidar minha companheira, você com certeza não diria que eu sou muito novo pra isso né?” – ele ficou um pouco sem jeito, mas mesmo assim não mudou de ideia e eu fui atrás de outro profissional.

O meu procedimento foi feito com um médico particular, pois meu plano de saúde até cobriria, mas eu percebi que teria que brigar judicialmente por esse direito. Pensei no desgaste e nos gastos que teria ao acionar o plano na justiça e, como eu tinha o dinheiro na época, preferi fazer logo o procedimento particular (que custou R$ 1.500 reais). Eu encontrei o médico que fez a vasectomia em mim no site Doctoralia, lá os pacientes podem fazer perguntas e os médicos respondem, e já havia a dúvida de um paciente perguntando se poderia fazer uma vasectomia sem filhos – e um dos médicos respondeu que sim. Quando vi no perfil que ele era daqui de Brasília, entrei em contato para marcar uma consulta, e ele disse que faria sem problemas. Inclusive posso recomendar o médico – além de uma lista de médicos no Reddit que fazem tanto vasectomia quanto laqueadura (o que é um pouco mais difícil de achar) em pessoas sem filhos. 

Outra burocracia pela qual as pessoas podem passar é a necessidade de apresentar o consentimento do cônjuge (o que, ao meu ver, é ridículo) – o marido/ esposa deve assinar um termo dizendo que concorda com a esterilização. Eu não passei por isso, porque sou solteiro, e atualmente já existe um projeto de lei que procura acabar com essa obrigatoriedade, além de flexibilizar a lei do planejamento familiar em vários outros aspectos.

Ao meu ver, o estado não deveria mandar em nossos corpos e ditar as condições para a esterilização, essa deveria ser uma decisão pessoal do indivíduo a partir dos 18 anos.

Experiência com a esterilização em si

Não vou mentir, doeu um pouco sim – mas a dor é suportável e é bem rapidinho (o procedimento todo dura em torno de meia hora). Acho que um dos principais temores dos homens é perderem a ereção ou a virilidade de alguma forma, já que a cirurgia mexe numa área muito sensível pra nós – mas sexualmente não afeta em nada, eu não senti diferença alguma em nenhum aspecto. Para mim, ficou completamente normal, como era antes da cirurgia.

Eu também tinha meus receios: medo que doesse muito, ou que ficasse uma cicatriz grande; mas, no fim, acho que meu maior medo era de fazer a cirurgia e não dar certo (realizar o espermograma e ver que não estava zerado) – mas ainda bem que deu! Fiz o exame e o resultado obtido foi zero.

Eu estou muito satisfeito com minha decisão e irei repetir o espermograma anualmente – é um procedimento necessário para acompanhamento, para avaliar se não houve religação do canal. Essa uma parte é um pouquinho chata e constrangedora – mas nada que se compare a ter filhos!

Acesse, no perfil do Sem Filhos no Instagram, a série especial sobre homens famosos sem filhos.

2 thoughts on “Vasectomia aos 28 anos e sem filhos”

  1. Obrigada por partilhar sua experiência, Lucas!
    Importante socializarmos também as expectativas de homens que querem exercer o direito de não ter filhos. Isso ajuda muito a desmitificar a ideia de que casamento obrigatoriamente envolve filhos.
    Concordo plenamente que é um absurdo a exigência de concordância do cônjuge sobre a esterilização.

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